sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

CONTO - O BLUES DE NOVA BABEL: TRÊS CARTAS (PARTE 2)

Escrito por
MWXS

Obs: a primeira parte desta história pode ser lida através deste link.

Sob as sombras e as luzes do Última Chance, o álcool e a música são remédios receitados pelo atendente detrás do balcão do bar. Um placebo doce para me fazer esquecer o sabor amargo das mazelas do dia a dia. E o assombro dos meus fantasmas pessoais.

Olho em volta e dou um longo suspiro. Deixo a música embalar meus nervos. O arrepio ébrio espalha jovialidade pelo meu espírito. Também causa um pouco de tontura. É o álcool cobrando seu quinhão pelo breve instante de relaxamento. As pessoas em volta se tornam vultos na escuridão. Na penumbra, sob a luz efêmera do bar, sorrisos e vozes num caos cheio de vida e beleza, tolice e sabedoria. É quando eu vejo uma borboleta voando discretamente entre os corpos em movimento, uma tatuagem adornando delicadamente as costas de uma mulher.

Vanice está perto do palco, ao sabor das batidas da banda. Vibrações melancólicas, porém esperançosas, que todo bom blues deve ter. Balança o corpo num movimento ritmado e agradável de ver, como as ondas do mar numa manhã de domingo, à beira de uma longa praia branca. Sob um céu nublado. Ela mantinha os olhos fechados, expressando claramente para quem se desse ao trabalho de reparar a bela obra de arte que estava compondo, num grito silencioso que dizia — Eu estou muito bem! — para todos em volta sem dizer palavra alguma. Ela tem esse lance de energia, uma encarnação perfeita de carpe diem. Uma mulher capaz de passar aquela alegria radiante para qualquer um que estivesse próximo. O que infelizmente inclui o bando de idiotas que a cercam. Um punhado de panacas babando em volta de um pequeno sol brilhante.

Quando um dos manés com quem ela está acompanhada a abraça e a beija no pescoço, eu deixo escapar um sorriso cínico. Uma mulher como ela não deveria perder tempo com esses cabeças ocas. Moleques incapazes de enxergar a beleza debaixo daquela beleza. Era como beber um bom vinho entre bêbados.

Mas não era por falta de aviso. Eu já tinha dito isso para ela quando andávamos em três. Nós e um amigo. Durante a fase dela de andar com caras estranhos. Não que caras estranhos também não pudessem render idiotas competentes. Nisso eu posso levantar a mão e dizer pro juiz — Culpado! — para ambas as coisas. Ela nunca me deu ouvidos, mas quem raios sou eu para dar conselhos a alguém sobre problemas de relacionamentos complicados? O roto falando ao torto.

O cara que a abraçou a puxa para dançar. Ela ergue os braços na altura dos ombros dele, pousando gentilmente o rosto sobre seu peito. Vejo novamente a bela borboleta tatuada, livre entre a longa fenda do vestido, em suas costas. Me distraio durante alguns minutos olhando para aquele pequeno inseto colorido dançando imperceptível entre as pessoas.

— Ei, Vanice! — alguém chama sua atenção. O grupo inteiro olha para um dos cantos bem iluminados do bar, onde ficam as mesas. Com um aceno e um sorriso lançados à distância, um cara numa mesa de pôquer pede para que ela vá até ele. Num instante de segundo, ela quase consegue disfarçar a surpresa e preocupação entre a expressão de alegria que veio em seguida. Tão natural que ninguém poderia dizer que não era verdadeira. Só eu, com um maldito faro para confusão, consigo perceber que tem algo errado acontecendo.

— Vanice, vem cá! — Meus olhos se desviam da borboleta e vão até o amigo dela. Um estranho para mim, mas no instante que bato a vista em seus colegas de mesa, eu presumi que se tratava de mais um daqueles moleques idiotas. Digo, não um idiota qualquer, este conseguia ser idiota demais até para o bem da própria saúde. Então aquelas breves marcas de preocupação que marcaram a face de Vanice alguns segundos atrás fizeram sentido.

Eu torci para que ela fosse sensata o suficiente para não ir até ele. — Não vai não, fica aí! — O sussurro me escapou entre os dentes. Mas quem raios sou eu para dar conselhos a alguém sobre problemas que estão para nos agarrar pelos calcanhares? O roto falando ao torto.

Sorrindo, ela se aproxima do amigo com um beijo no rosto. Sussurra algo em seu ouvido e deixa escapar novamente uma breve expressão preocupada. Ele ri para tranquilizá-la e lhe devolve o beijo. O efeito que ela causa aos outros jogadores na mesa é fulminante. Prende sua atenção. Ficam mudos. Por uns instantes os caras nem respiram! O moleque sabia que isso ía acontecer. Ele queria distração.

Só eu, com um maldito faro para confusão, percebo as mãos rápidas do idiota, deslizando discretamente antes dele fazer um comentário sarcástico e alto o suficiente para arrancar todos do transe. Ele conseguiu o que queria, mas continua falando alto, contando vantagem, dizendo baboseiras, se achando o dono da mesa. Um idiota soberbo e um trapaceiro barato, péssima combinação para o ego de um moleque entre homens.

Ele acha que é esperto. Eu sei que não é. Porque eu sei que a mesa tem um dono. E não é ele.

Dane-se o idiota. Minha preocupação está em outra pessoa. — Sai daí, Vanice, essa história não vai acabar bem! — Viro outra dose de pinga. Este sou eu, um maldito pretensioso que acha que pode dar conselhos a alguém, sobre problemas que obviamente não vão terminar bem. Um roto falando de algo torto.


Leia a terceira (e última) parte de Três Cartas clicando aqui.

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

NO WATTPAD: DIAS DE CHUVA


Saudações joviais.

Seguindo minhas atualizações de texto para publicação no Wattpad, revisei mais um texto para a série OS DIÁRIOS DE ÓCULOS que pode ser conferido aqui.

Material que escrevi em fevereiro de 2013. Tempo demais para dizer que foi ontem. Tempo de menos para dizer que está esquecido. Mas afinal, talvez nunca esqueçamos estes momentos que nos marcam como ferro em brasa.

Bons ventos.

GWT.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

NO WATTPAD: TERMINE. RECOMECE. REPITA.

Está postado no Wattpad mais uma parte de Os Diários de Óculos, onde estou republicando textos antigos aqui do blog, revisados e atualizados.

Ao contrário do que pode parecer, o material está longe de ser um simples reaproveitamento de conteúdo. Com os anos passados e uma boa releitura dos textos, as palavra ganham novo peso com a experiência.

Imagem: MWXS

"Termine. Recomece. Repita.", por exemplo, é um texto que postei em dezembro de 2012. A nova versão pode ser lida neste link e aqueles que acharem que a curiosidade valha fazer uma comparação, vão ver o quanto o texto amadureceu e ganhou em significância.

Digo, não que tenha menos significado antes. Vamos dizer que as palavras acabam conseguindo percorrer caminhos sensivelmente diferentes na busca de se expressar melhor. E talvez consigam. Ou não.

Boa leitura.

E Bons Ventos.

MWXS

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quarta-feira, 14 de novembro de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: NO PAÍS DA PIADA PRONTA...*

Nada mais conveniente do que o país do HUEHUEBR elegendo para Presidente da República um MEME de mau gosto.

MWXS

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* Escrito em 31.out.2018, Belém-PA

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

DIÁRIOS DE ÓCULOS: DE MÃOS DADAS SEGUIMOS ADIANTE. DO CONTRÁRIO...*

Eu não preciso seguir partido vermelho ou verde e amarelo para saber que incentivar perseguição política violenta é algo errado. Eu não preciso ser mulher para saber que machismo é errado. Eu não preciso ser negro para saber que racismo é errado. Eu não preciso ser gay para saber que homofobia é errado. Eu não preciso ser nordestino (apesar de sê-lo) para saber que xenofobia é algo errado. Eu não preciso acreditar num outro deus (ou até deixar de fazê-lo) para saber que cada um pode ter o credo que deseja. Porque a sociedade não é sobre mim, não é sobre quem eu sou ou no que eu acredito. Mas sobre convivência, sobrevivência e prosperidade mútua. E a sociedade é plural, diversificada, viva. Ela não é homogênea. A sociedade é sobre o respeito das diferenças para criar uma união que não florescerá sem tolerância. Bruce Lee disse uma vez, que debaixo do céu, sob o firmamento, somos todos uma única e grande família. Apenas acontece das pessoas serem diferentes.

MWXS

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* Escrito em 29.out.2018

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

BREVE TRATADO SOBRE NÓS, OS MACACOS: COISAS QUEBRADAS

Buscamos encontrar alguém que tenha problemas e precise de nossa atenção, para nos distrair do fato de que na verdade somos nós quem precisamos consertar coisas quebradas.

GWT

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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

BREVE TRATADO SOBRE NÓS, OS MACACOS: A GENTE DO SPOILER*

Dá para diagnosticar fácil que o desespero de alguns em dar spoiler é gana para chamar atenção, tipo aquele pessoal que não tem amigos e não sabe lidar com outros seres humanos numa conversa.

MWXS

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Escrito em 4.out.2018, Belém-PA

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: ELE NÃO*

Antes de tudo isso é um problema de humanidade. Transformado nocivamente em ato político. Não estamos diante de discussões partidárias, se trata de um posicionamento moral. Eu digo não ao ódio. Ele não.

MWXS

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Escrito em 03.out.2018, Ananindeua-PA

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

BREVE TRATADO SOBRE NÓS, OS MACACOS: A EDUCAÇÃO DE UM HOMEM*

O nível de educação de um homem pode ser medido numa razão inversamente proporcional à abertura de suas pernas ao sentar.

MWXS

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* Postado em 21.set.2018, Belém-PA

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

BREVE TRATADO SOBRE NÓS, OS MACACOS: QUEM PROCURA, ACHA*

Um dos princípios fundamentais do universo é que: quando você põe a mão numa cumbuca, o que tu está buscando vai estar (beeem) no fundo.

MWXS

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* Publicado em 14.set.2016

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: AS VOLTAS INCOERENTES QUE O MUNDO DÁ*

A pessoa teve oportunidade para boa educação e contato com diversidade cultural e mesmo assim calhou de ter opinião política, não conservadora, mas reacionária mesmo. Fica a dúvida: se trata de estupidez inata ou falta de caráter? Nenhuma das opções torna o fato menos triste.

MWXS

* Escrito em 9.set.2018, Ananindeua-PA

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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: ANSIEDADE VERSUS O MUNDO*

O problema em diagnosticar os próprios problemas é diferenciar a escrotidão das pessoas de algo que sua cabeça inventou. Quando ambas são perfeitamente passíveis de culpa fica difícil distinguir, mas vamos combinar que nesse quesito as pessoas não ajudam.

MWXS

* Escrito em 6.setembro.2018, Belém-PA

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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

VERSOS NÃO RIMADOS: O HOMEM DIANTE DO ESPELHO


A inocência da criança e a tolice do jovem de outrora,
São do homem diante do espelho.
As conquistas e derrotas, o nome que estará gravado em sua lápide,
São do homem diante do espelho.

GABRIEL W. TUDOR

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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A BALADA DO CALIBRE 38 E A MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COM ROTEIRO DE HQ

Vários meses se passaram desde que eu e o desenhista Evaristo Ramos nos conhecemos num projeto literário chamado "Manga Pulp" e começamos a trocar umas figurinhas na busca de realizar um trabalho juntos. Foi quando surgiu "A Balada do Calibre 38", uma história em quadrinhos que conta o dia a dia do investigador Félix Vargas, numa ambientação com pretensões de misturar elementos cyberpunk e dieselpunk embalados num estilo noir.

Leia A BALADA DO CALIBRE 38 neste link!

Conforme a história foi ganhando corpo fomos desenvolvendo a ideia de transformar nosso trabalho em conjunto num selo, foi aí que surgiu o Peregrinos Ficções, que, se as Musas permitirem, se tornará num projeto frutífero para a realização de outras ideias.

Saiba mais sobre o selo Peregrinos Ficções neste link!

Até então a aventura tem sido uma empreitada trabalhosa onde tenho aprendido muito: desde a minha primeira experiência na escrita de roteiro, desde noções de edição, letreiramento, narrativa visual... Isso sem contar do retorno mais efetivo dos meus exercícios com desenho, histórias em quadrinho e muito estudo sobre tudo isso junto!

É isso, no momento A BALADA DO CALIBRE 38 pode ser lida através destes links no Wattpad ou no Tapas. Oxalá consigamos terminar nossa primeira edição para pensar numa publicação física e começar as próximas!

E as Musas hão de nos favorecer!

Bons ventos.

MWXS

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sexta-feira, 20 de julho de 2018

"OS DIÁRIOS DE ÓCULOS" NO WATTPAD

Recentemente comecei a publicar outra obra no Wattpad, revisando mais alguns dos textos apresentados aqui no blog, buscando dar um tratamento mais literário para escritos antigos e com o desenrolar das publicações exercitar minha habilidade de escrever crônicas. É um tipo de texto que tenho adiado há muito tempo em estudar.

Mas afinal em que assunto eu não preciso de mais estudos? :-)


Os Diários de Óculos trata de textos escritos sobre momentos pessoais, alguns especialmente inspirados em boas energias e outros... Nem tanto. E nem sempre. A obra pode ser conferida através deste link.

MWXS

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sexta-feira, 13 de julho de 2018

CONTO EM "TAGMAR - LIVRO DOS DEUSES"

Recentemente o Projeto Tagmar (antigo Tagmar II) lançou mais um suplemento, o Livro dos Deuses, apresentando tudo sobre os deuses do cenário: histórias, personalidades, relações, cultos, etc.

O livro possui um conto escrito por mim, abrindo e fechando o suplemento, narrando uma história do personagem Kerdal, figura recorrente em outros livros do jogo, que enfrenta desafios e revelações que mudarão sua vida.



Tagmar é conhecido como o primeiro RPG feito por brasileiros. Lançado em 1991 como um jogo de fantasia medieval aos moldes de J.R.R. Tokien e Dungeons & Dragons e recebendo personalidade própria em seguida, como o cenário apresentado no suplemento Império, que insere uma região exótica inspirada nos povos antigos do Oriente Médio, como os fenícios, sumérios, etc.

O download gratuito de Tagmar - Livro dos Deuses pode ser feito pelo site do projeto, neste link.

MWXS


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quarta-feira, 4 de julho de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: ATÉ QUANDO

Por quanto tempo a nossa natureza pode sobreviver num ambiente hostil até que não sobre nada? Cinzas e pó. Uma sombra na memória, um fantasma de esperança perdida.

Por quanto tempo a nossa verdade, amor, vontade e coragem podem sobreviver num chão de ferro até que só sobrem mentiras, raiva, inveja e covardia?

Seu eu é devastado e aquela imagem no espelho pode ser qualquer um. Um zé-ninguém. Um fulano de tal. Não importa mais.

Quando chegamos neste ponto, o que significa viver?

Quando os sonhos estão mortos cada noite se transforma numa pequena morte.

E a luz da aurora não traz nenhum significado. Nosso renascimento tem mais de Prometeu do que de Nazareno. E a manhã chega como um fardo diário que não queremos carregar mais.

GWT

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Obs: se você gostou do texto, pode conferir Os Diários de Óculos e outros escritos também no Wattpad. Deixe seu comentário contando sua experiência na leitura ou mesmo sugestões de como melhorar, críticas são muito bem vindas! Bons ventos.

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sexta-feira, 29 de junho de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: ESPÍRITO ESPORTIVO ONDE?*

Tem que vencer, não precisa merecer. Não basta se preocupar com as próprias vitórias, tem que sambar na derrota dos adversários. O espírito esportivo que se lasque. #táserto

MWXS

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* Em 28 de junho de 2018.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

CARTAS PARA ELA: CARTA PERDIDA IV (PALAVRAS EXITANTES)

Para Ela, de GWT.

Amanhã é teu aniversário e eu me apanho pensando sobre o que escrever nesta carta. Tenho escrito pouco. Agora me resta orar aos deuses para que a falta de prática não pese sobre meu espírito, onde a inspiração ainda resiste, para relatar sobre coisas tão boas de vivenciar diariamente.

Mas estas são coisas dos sentimentos, e o que toma o coração nem sempre vai guiar devidamente a mão que escreve. Mesmo assim eu tento, na esperança de que o esforço honre a atenção dos teus olhos.

O que posso contar? O quanto te amo? O quanto o tempo que passamos juntos é importante? Andando lado a lado, tentando encontrar o próprio caminho sem se distanciar um do outro.

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sexta-feira, 22 de junho de 2018

DIÁRIOS DE ÓCULOS: A OBRA QUE NÃO ACOMPANHA A PALAVRA

Triste de ver. Quando o discurso bonito não sobrevive à soberba do ego.

MWXS

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quarta-feira, 20 de junho de 2018

CARTAS PARA ELA: CARTA PERDIDA III (O MEU OLHAR)

Para Ela, de GWT.

Eu estava sentado nas areias daquela praia.
Observava admirado,
Deliciosamente paralisado,
Você caminhar em direção ao mar.

Olhou para trás, com um sorriso carregado de felicidade
E um olhar cheio de alegria.
Você acenou como quem pedisse permissão,
Acenou como quem fizesse um convite.

E eu vi como tudo em ti é parte de uma grande arte:
Tua voz, uma música calma e inquietante,
Teu sorriso, uma pintura da mais concreta abstração,
Teu corpo, uma bela escultura. Cada curva insinuando sentimentos.

A tua vida, um romance. Lido pelo leitor mais atento.
Amando cada acorde tocado pelo vento, com os cachos dos teus cabelos.
Cada linha dos traços que desenham teus lábios

E todas as rimas ocultas no teu silêncio.

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sexta-feira, 15 de junho de 2018

CARTAS PARA ELA: CARTA PERDIDA II (EIS O QUE SOMOS)

Para Ela. Do GWT.

Estamos num feriado. Estamos num dia comum. Estamos juntos, afinal é o que importa.

Está de noite. E parece que a noite é inteira nossa, como se não tivéssemos que a compartilhar com o resto das pessoas no mundo. Como se fossemos os dois únicos seres vivos, os únicos dois corações pulsantes. Em nosso mundo. Um pedaço do Mundo. Ocultos pela noite. Pelas quatro paredes do quarto.

Abraçados pelo frio, acalentados um pelo outro. E nos aquecemos bem! Minha mão agarrada à tua mão, teu corpo debruçado sobre o meu corpo. Corações explodindo calor. Tanto desejo quanto ternura.

Duas estrelas dançando perdidas através do universo, dois amantes perdidos através do quarto, sob os lençóis.

Eis os nossos momentos juntos. Cada um dos instantes eternos em que perduram.

Eis o meu amor dizendo sim ao teu. Eis o teu amor dando sim ao meu.

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domingo, 3 de junho de 2018

CONTO - GOLPE FULMINANTE!

A lua pairava alta no céu de Hikari enquanto um aglomerado de estranhos se formou entre os galpões às margens do Rio Gwam. Ventava pouco e apesar da noite e da humidade nas docas, fazia um calor abafado. Estava escuro, havia poucos postes, afinal a reunião tinha que ser discreta aos olhos das pessoas comuns… E da Lei.

A comoção era formada por grupos de indivíduos distintos, membros das várias escolas de artes marciais espalhadas da cidade. Jovens, adultos e até mesmo algumas figuras conhecidas da velha guarda, entre mestres e veteranos casca-grossa. Apesar da multidão formada em grande parte por homens, haviam algumas mulheres também, cujos olhares e postura deixavam óbvias coragem e garra. Muitos diriam que bem mais do que a maioria dos valentões presentes alí, que gostavam de chamar a si mesmos de lutadores.

As mistura de culturas era evidente. Brancos, negros, indígenas, nipônicos… Ricos da elite urbana e moradores da periferia. Rodas de capoeira, dojos de caratê e tae kwon do, academias de boxe e muay thai. Estranhos e figuras conhecidas se encontraram com todo o respeito ou desdém que deviam uns aos outros, num limiar pouco percetível entre ambos os sentimentos. Apesar daquela reunião demonstrar a pluralidade de Hikari, o evento que seria anunciado não se tratava de representatividade, e a troca de olhares pouco amistosos indicava um ambiente pouco propício para amenidades sociais.

Era uma noite de sussurros: segredos e rivalidades pulverizadas no ar.

Todas aquelas pessoas estavam alí pela convocação de um homem misterioso, mas com propósitos claros, suficiente para atiçar a curiosidade e a ambição.

O barulho alto de um portão pesado correndo por trilhos quebrou o suspense, atraindo a atenção dos presentes para a entrada de um galpão próximo. Um homem branco, forte, de cabelos raspados, jeans e camiseta, empurrava o portão do galpão 95. Depois chamou todos com um assobio e um aceno.

Havia pouca luz e o lugar estava vazio, exceto pelo palco improvisado montado no centro, onde um homem magro usando suspensórios e chapéu estava esperando. Aguardou silenciosamente enquanto todos entravam e se posicionavam em volta.

Ao passar pelo portão, algumas pessoas acharam que o homem na entrada era familiar… Achavam que tinham o visto na TV ou na internet. Outros entre os veteranos o reconheceram. Frederico Ferreti estava ali em pessoa, um lutador com renome, que havia disputado vários cinturões nacionais, mas que há alguns anos sumiu repentinamente dos circuitos de lutas e da mídia.

O homem de suspensórios esperou que Ferreti fechasse o portão e se juntasse a ele, de braços cruzados e em silêncio, como um guarda-costas. O homem tirou o chapéu, mostrando o rosto esguio e a testa comprida. Sob a atenção de todos, pigarreou.

— Boa noite, senhores. — Sua voz saiu alta e manhosa, num sotaque carioca carregado. — Tenho muita satisfação de estar aqui entre vocês, os lutadores mais promissores de Hikari, nesse momento de grandes oportunidades para todos nós.

Os ouvintes se entreolharam. Quem seria o desconhecido? Alguns tinham uma ligeira desconfiança de quem se tratava, mas mantiveram silêncio e atenção.

— Agradeço por terem aceitado meu convite e aparecerem nesta reunião. Estou aqui para anunciar para vocês sua grande chance de participar de um grande evento, onde poderão mostrar suas habilidades num torneio que vem revelando grandes lutadores em todo país! Muitos de vocês não devem conhecer, mas aposto que alguns já ouviram falar, mas não imaginavam que fosse mais do que um boato instigante. E eu estou aqui para comprovar, esse torneio existe! Apesar de discreto, revelado apenas para indivíduos especiais, como vocês que estão reunidos aqui, nesta noite.

Um calafrio correu pela espinha dos lutadores mais jovens. Estavam empolgados com todo aquele clima de que algo grandioso e secreto estava acontecendo.

— Guerreiros de Hikari! Nos próximos meses, fortaleçam corpo, mente e espírito, pois sua coragem e poder de luta serão postos à prova, este é o chamado para o torneio Golpe Fulminante!

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segunda-feira, 28 de maio de 2018

PERFIL NO DEVIANTART


Saudações joviais.

Acho até engraçado como a escrita progressivamente foi substituindo a minha primeira manifestação artística: o desenho.

Fruto do interesse nas histórias em quadrinhos, quando conheci personagens como Hulk, Wolverine e Superboy, e tive contato com o trabalho de artistas como John Byrne, Tom Grummett e Marc Silvestri, meus preferidos na época, durante os meados dos Anos 90.

Infelizmente não explorei devidamente o talento e o tempo que poderia ter dedicado à atividade, mas com a vontade e o esforço para desenvolver minha escrita, também veio a vontade de resgatar minha habilidade nos desenhos, mesmo que timidamente.

Percebi que alguns resultados poderiam ser publicados em algum lugar, além do blog, então resolvi criar uma conta na plataforma social DeviantArt, voltada para este tipo de publicação.

Então é isso, quem quiser espiar e acompanhar minhas desventuras nos traços podem seguir este link, e claro, é sempre bom deixar comentários e compartilhar com os conhecidos, se o trabalho merecer.

Bons Ventos.

MIKE WEVANNE "MWXS"

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quarta-feira, 2 de maio de 2018

domingo, 29 de abril de 2018

O BLUES DE NOVA BABEL: TRÊS CARTAS (PARTE 1)

Salto do ônibus quando chego no centro da cidade. A noite já avançou algumas horas, deitando seu manto escuro e frio sobre Nova Babel. Embora hoje em dia ninguém mais perca tempo olhando pras poucas estrelas que resistem entre as nuvens escuras, eu dou uma boa olhada e deixo escapar um sorriso de satisfação, como se estivesse espiando algo secreto e especial. O céu noturno é uma bela pintura, oculta das pessoas comuns, ocupadas demais, apressadas demais para olhar.

Deixo a umidade entrar nos meus pulmões e sigo adiante. As ruas do Centro se insinuam, flertando e oferecendo prazer, usando música, sexo e álcool para chamar atenção. As ruas não se importam com sua classe social, com a cor da sua pele ou sua maldita religião. A cidade é uma pregadora profana tentando levar qualquer um à perdição.

Os becos são tomados pelo assobio distante de músicas, vindas dos bares espalhados pelo bairro, ecoando como o canto de sereias, sibilando abafado entre as ruas desertas, seduzindo os desesperados. Uma brisa gelada toca a minha pele, eriçando pelos e desejos. Puxo um cantil do bolso e entorno um bom gole de cachaça que pode até espantar o frio, mas mantém os pelos e desejos eriçados.


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Quando chego ao Última Chance, o bar está cheio de gente. Pessoas buscando prazer no fundo de um copo de cerveja ou na companhia de alguém especial. As pessoas sempre esperam encontrar alguém especial, quando provavelmente vão se entregar para a companhia mais banal. Mas a esperança, como dizem, é a última que morre.
Mas essa tênue esperança é o que faz florescer a vida noturna da cidade. Talvez afinal as pessoas encontrem o que buscam. Talvez precisem de mais do que um copo, talvez precisem de mais de uma companhia. A esperança é uma maldita lazarenta que não se fode antes de te fuder. Esta vai ser uma longa noite…

A banda no palco toca um blues chorado, bem adequado para embalar o estado de espírito do público. Eu vejo alguns rostos conhecidos e os cumprimento com uma simpatia conveniente, porque em algum momento da noite o bar vai fechar, mas a madrugada seguirá adiante e nunca se sabe quem serão os camaradas que vão continuar a longa jornada até o amanhecer. Quando chego ao balcão oferecendo um sorriso pros atendentes, peço três doses de pinga. Não sou exatamente um fã de cerveja, então preciso amaciar o paladar para fazer descer o resto do molha goela que virá depois. Faço uma fila com os copos e entorno as doses uma depois da outra. A cachaça barata desce queimando a garganta e o cérebro, mas eu fico firme. O calor chega ao estômago, se espalha pelo resto do corpo e me traz um breve bem estar. E eu sorrio, como se tivesse feito algo secreto e especial.

Essa vai ser uma longa noite.

O casal detrás do balcão são os donos do lugar, acham graça da pequena cerimônia que eu fiz para beber. Ele é um espanhol com sotaque carregado e que geralmente fala rápido demais para que eu entenda alguma coisa com todo o barulho em volta. Ela, sócia e namorada, uma morena linda com um sorriso largo e cheio de vida. Não duvido que seja o responsável por cativar muitos dos frequentadores mais assíduos do Última Chance. Eu peço mais uma dose, mas deixo o copo e o meu estômago descansarem por alguns minutos.

Estou cercado por uma confusão de som e rostos. O ambiente toma conta dos meus sentidos. Está quente. O calor das pessoas se amontoando e o barulho fazendo o ar reverberar. Vibrar. Ouço gargalhadas. E conversas fúteis, embora a penumbra torne tudo mais misterioso, mais interessante. O bar está cheio de gente com histórias pra contar, e mulheres bonitas demais para não arriscar um flerte. Foi o que resolvi.

Vim ao Última Chance em busca do prazer volúvel proporcionado pelo álcool: afogar frustrações e fantasmas. Arrancar do cérebro as lembranças de um relacionamento que terminou há tempo demais para dizer que existiu mas que ainda me roubava algumas noites de sono, me fazendo se revirar na cama e encarar por horas as rachaduras no teto do quitinete barato que eu chamo de lar. Doce lar. Então vim para isso, esquecer.


Foi o que eu resolvi.

Jogar algumas virtudes para debaixo do tapete numa noite perdida. Encher a cara e mentir o suficiente, ou ser enganado o suficiente, até levar alguém para fuder num motel fuleiro qualquer. Deve resolver meu problema. Ao menos por essa noite não vou encarar nenhum teto riscado.

Mas first things first. Eu me concentro na primeira parte do plano: beber até não me importar em seguir os passos seguintes. Bebo a dose de cachaça que estava me esperando e encomendo a próxima. Sinto um prazer doce ao amaciar uma parcela de bom senso.

Essa vai ser uma longa noite.


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Obs: você pode ler a segunda parte deste conto através deste link.

MWXS

quinta-feira, 12 de abril de 2018

OS DIÁRIOS DE ÓCULOS: ESQUINAS

Meu espírito anda tão à flor da pele que eu crio um romance diante de qualquer brisa de beleza. Acho que a solidão tem sido minha companhia por tempo demais.

GWT

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